Blog do "C. E. Frei Tomás"

Venha participar!
Querendo publicar?
Mande um email para cefreitomas@gmail.com
Quer ser seguidor?
Basta ter uma conta no gmail.
Divulgue junto aos seus amigos!
Esse blog é nosso: "Frei Tomás na Rede"

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desabafo de um Jeca


     
     Hoje acordei com minha irmã me chamando para assistir algo parecido com o antigo “Som Brasil”, mas apresentado por Geraldo Boldrin. Fui convocada a relembrar as manhãs de domingo de tempos passados, quando meu avô nos mostrava o som do nosso país: Noel Rosa, Lamartine Babo, Dolores Duran, Almir Sater etc.
      Relembrando nosso avô, ela me perguntou “O que vovô diria se visse Itaocara hoje?”. Não precisei pensar muito, tinha a resposta na ponta da língua, disse-lhe “Ele nos perguntaria: Para onde foi a beleza?”.
      Começamos a indagar porque a raiva enlouquecida contra o verde. A grama das praças foi gradativamente ao longo dos anos trocada pelo concreto. A maioria das árvores foi arrancada, já não acordamos ao som dos passarinhos.
      Os monumentos desmoronam, lembramos o “Moisés”, interditado, a ponto de cair, como outrora lá brincávamos, foi lá que descobri que tenho medo de altura aos oito anos de idade. A piscina pública da primeira metade do século XX, afogou-se em toneladas de terra e concreto, dando lugar a um palco com cores vibrantes. As cores da cidade são fortes, quase uma violência contra o bom gosto. Ao invés de darem uma sensação de relaxamento como antes, agora expressam inquietude.
      Já perdemos tanto, nas fotos do casamento de nossos pais, havia um lindo coreto, que fora substituído e sequer chegamos a conhecê-lo. Não tenho filhos, mas se os tivesse, não poderia levá-los para conhecer a “Diana Caçadora”, o aquário com o peixe elétrico, o palco subterrâneo que pulávamos de prismas a cilindros coloridos até chegar à parte mais baixa, a estátua do “Frei Tomás” a quem pedíamos bênção, o museu que ficava onde hoje é a Secretaria de Educação, sobrou apenas a fonte do lado de fora e, destruíram a fonte do menininho fazendo xixi em frente ao hospital, foi assim que vi o primeiro homem nu.
      Por que tanta destruição? Onde anda nossa memória? Maria Rita será esquecida, e depois também o Toninho quando partir? Tudo isso em nome de um falso progresso, de uma arte nada moderna, de uma forma tão equivocada de ver a vida. Será que somente a gente tem saudade. Meu avô se foi há muito tempo, meu pai também, um dia serei eu a partir, e quem será Itaocara? Uma cidade sem memória, sem história, perdida para sempre.
      Uma nova cidade de concreto e pedra, moderna, cinza de progresso, quente, não pela emoção, mas pelas altas temperaturas, afinal são poucas árvores e nenhuma grama. E tudo novo, os monumentos, os prédios, as ruas, esquinas e calçadas. Talvez até o rio esteja em outro lugar, transportado por alguma nova tecnologia.
      Desaparecerá por completo o chão que um dia pisei e a beleza que retive. Apenas restarão algumas fotos e imagens na lembrança daqueles que apreciam o que é realmente imperceptível ao olhar da maioria apressada na busca pelo poder.



Rosivar  Marra  Leite

Nenhum comentário:

Postar um comentário