Blog do "C. E. Frei Tomás"

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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Florbela Espanca


Confissão

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
……………………………………………………..
Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

Florbela Espanca
 
No dia 24 de Março de 2007 sai um curioso artigo no Jornal Diário do Sul1 sobre o dia mundial da Poesia. Uma das coisas que nos chama a atenção ao abrir esse jornal é a imagem de Florbela Espanca que, ocupando o centro da página, se destaca logo aos olhos de qualquer leitor. O interessante é perceber que não há sequer uma linha a falar da poetisa alentejana: a imagem de Florbela apenas se configura como uma projeção, um arquétipo, que induz, se não todo o leitor português, pelo menos os leitores alentejanos, ou aqueles que apreciam poesia, a fazerem uma ligação direta de Florbela com poesia. Essa projeção do nome de Florbela e de sua imagem é construída há vários anos, criando “mitos” em torno de seu nome e sua obra. Ou seja, produziu-se uma imagem ilusória de Florbela, sobretudo com a política salazarista e a Igreja,2 que repudiaram sua obra, por causa de uma biografia nada comum para os padrões vigentes. Toda esta problemática gerou, aos críticos, um certo descompasso ao analisar a obra da poetisa, tentando reconstituir a autora a partir de sua obra poética, transformando-a em personagem, por causa da aproximação entre a biografia e a obra. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antónia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antónia, Apeles. Mais tarde, Antónia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam. Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”. 

Um comentário:

  1. Rachel,
    Que maravilha a descoberta de Florbela, quando a li pela primeira vez concebi o seguinte poema:

    BELEZA

    Olho meu corpo no espelho:
    O tom alvo da minha pele
    O castanho dos meus olhos
    Combinando com meus cabelos
    As curvas equilibradas
    Num conjunto de delicadeza.
    O que é a beleza?
    A elegância da forma
    Ou a expressão da alma?
    O belo contorno do que dizemos
    Ou o perfume que desprendemos?
    Talvez a beleza
    Seja apenas quimera,
    Porque perfeição completa
    É busca vazia,
    Sou imperfeita
    E feita de mistério
    Talvez desvendar-me
    Seja o que há de mais belo...

    Vamos difundir Florbela para que ela inspire também nossos alunos!

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